O Brasil de Jair Bolsonaro seria um desastre para a Amazônia e a mudança climática global

A talvez seja um terrível e irônica coincidência, mas no mesmo dia em que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgou um apelo marcante para ação urgente, Jair Bolsonaro ficou em primeiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil. Embora o líder do partido da extrema direita Partido Social Liberal (PSL) não conquistou os 50% dos votos populares necessário para ganhar as eleições e agora terá um segundo turno contra Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, sua ascensão trouxe algumas questões dolorosas e divisivas, tanto dentro do Brasil quanto fora dela.

Embora o líder do partido da extrema-direita Partido Social Liberal (PSL) não conquistou os 50% dos votos populares necessário para ganhar as eleições e agora terá um segundo turno contra Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, sua ascensão trouxe algumas questões dolorosas e divisivas, tanto dentro do Brasil quanto fora dela.

Bolsonaro falou abertamente da necessidade de um golpe militar e tem um histórico de visões racistas, misóginas e homofóbicas. Ele é frequentemente comparado a Donald Trump nos EUA, e tais paralelos também podem ser vistos na doutrina econômica protecionista que Bolsonaro adotou nesta eleição, por exemplo, uma promessa de acabar com o comércio de banana com o Equador para proteger os produtores brasileiros.

O sucesso eleitoral dessa figura divisora deixa o Brasil em um ponto de virada crucial. Já houve inúmeras análises sobre o que isso poderia significar para a política brasileira – mas o que isso poderia significar para o meio ambiente?

Tchau, Paris?

Apesar da campanha de Bolsonaro ser baseada tanto na personalidade quanto na política, é possível encontrar algumas promessas relevantes – e elas não são boas notícias.

Para começar, Bolsonaro disse anteriormente que, se eleito, retiraria o Brasil do Acordo de Paris de 2015 sobre mudança climática, argumentando que o aquecimento global não é nada mais do que “fábulas de efeito estufa”.

No entanto, em última análise, seu poder de reverter a decisão é limitado. Isso porque o acordo de Paris foi aprovado por meio do Congresso brasileiro, que atualmente está dividido entre 30 partidos, e Bolsonaro enfrentaria a complicada tarefa de convencer uma ampla legião de conservadores.

Embora o candidato do PSL possa ser incapaz de se retirar do quadro de Paris, sua eleição ainda seria uma ameaça direta ao regime de proteção ambiental no Brasil.

Ruralistas para Bolsonaro?

A ascensão de Bolsonaro é um sintoma de uma mudança política mais ampla que viu um alinhamento entre as visões ambientais da extrema direita e as de poderosas facções políticas no Brasil.

Embora nunca diretamente ligadas, às políticas ambientais de Bolsonaro seriam bem recebidas pelos chamados “ruralistas” – uma poderosa aliança de agronegócios e grandes proprietários de terras dentro do Senado e da Câmara dos Deputados.

A facção ruralista anteriormente apoiou o presidente Michel Temer e é famoso por sua agenda ambiental regressiva, que busca desmatar ainda mais a Amazônia para dar lugar a fazendas de gado, plantações de soja e indústria de mineração.

Bolsonaro pediu o fechamento da agência ambiental do Brasil (IBAMA), que monitora o desmatamento e a degradação ambiental, e do Instituto Chico Mendes, que emite multas para as partes negligentes. Isso eliminaria qualquer forma de supervisão de ações que levassem ao desmatamento.

A bolsonaro também ameaçou acabar com as proteções legislativas concedidas às reservas ambientais e comunidades indígenas. Ele argumentou anteriormente que o que ele descreve como uma “indústria de demarcação de terras indígenas” deve ser restringido e revertido, permitindo que fazendas e indústrias invadam terras anteriormente protegidas.

Ao remover esses órgãos de proteção da equação, a mensagem que Bolsonaro está enviando é clara: vastas áreas da paisagem biologicamente diversa e ecologicamente importante do Brasil serão abertas para o desenvolvimento e a extração. Com a indústria brasileira de soja aproveitando a atual guerra comercial entre os EUA e a China, é altamente provável que as promessas dessa potencial expansão sejam bem recebidas.

Na corrida para esta eleição, foram divulgados números que mostraram que a taxa de desmatamento na Amazônia brasileira continua aumentando. Em agosto de 2018, foram desmatados 545 km² de floresta – três vezes mais que a área desmatada no mês de agosto anterior. A maior floresta tropical do mundo é essencial para o aliviamento da mudança climática, portanto, reduzir o desmatamento é uma questão global urgente. O Brasil, no entanto, está indo na direção oposta.

Qualquer socorro coletivo na extrema direita que não conquiste o primeiro turno pode ser de curta duração. Enquanto o governo anterior de Temer revertia as proteções ambientais, um governo de Bolsonaro provavelmente adotaria uma estratégia anti-ambiental descarada. A segunda rodada da eleição está prestes a acontecer. À luz do recente relatório do IPCC, há mais coisas sobre ele do que nunca.


O artigo “Jair Bolsonaro’s Brazil would be a disaster for the Amazon and global climate change” foi publicado originalmente por The Conversation

Ed Atkins é professor na Faculdade de Ciências Geográficas da Universidade de Bristol

A opinião do artigo não representa, necessariamente, os princípios e valores do nota

Tradução: Rafael Bittencourt / nota

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