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O símbolo do amor e ódio

Por: Augusto Conconi, Gabriel Bergamascki & Matheus Salustiano, nota

Publicado em 26.out.18 às 19h30

Para 50 milhões de brasileiros, Jair Messias Bolsonaro de fato representa uma espécie de Messias, de salvador da pátria. 

A história começa no dia 21 de março de 1955, quando a cidade de Campinas, no interior de São Paulo, recebe o homem que, décadas depois, entraria para a lista dos mais controversos, caricatos e polêmicos da história brasileira. 

Filho do dentista Perci Geraldo Bolsonaro e da dona de casa Olinda Bonturi Bolsonaro, Jair cresceria forte até tornar-se personagem de aclamação e repúdio. Entre o amor e o ódio, poucos são indiferentes a ele.

Jair Bolsonaro PSL

juventude

Ao lado dos cinco irmãos, o menino passou quase toda a infância estudando e pescando em Eldorado, no Vale do Ribeira, há 245 quilômetros da capital paulista.

Bolsonaro frequentou as escolas estaduais Professora Maria Aparecida Viana Muniz e Doutor Jayme Almeida Paiva. Só saiu da cidadezinha com 18 anos de idade para ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. 

Aos 22, em 1977, formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras e na Brigada Paraquedista do Rio de Janeiro, onde seis anos mais tarde seria mestre em saltos. No mesmo ano, em 1983, cursou educação física pela Escola de Educação Física do Exército.

Frutos do casamento com Rogéria Nantes Nunes Braga Bolsonaro, vereadora no Rio de Janeiro entre os anos de 1993 e 2001, Flávio, Carlos e Eduardo seguiram os passos do pai – todos engataram em carreiras políticas. 

Do segundo matrimônio, com Ana Cristina Vale, nasceu Renan Bolsonaro. A caçula Laura é filha da atual esposa e possível primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

carreira política

Jamais precisou estudar ou ter qualquer tipo de diploma ou formação acadêmica para exercer sua maior especialidade: a polêmica. Inato, seu talento em provocações e escândalos transcende barreiras desde sempre. 

Ainda em 1986, quando servia como capitão no 8º Grupo de Artilharia de Campanha, escreveu o artigo intitulado “O salário está baixo”, para a revista Veja. Na ocasião, as críticas foram vistas como indisciplina ao Exército e renderam sua prisão.

No ano seguinte, quando Jair Bolsonaro já estava livre e cursava a Escola Superior de Aperfeiçoamento de Oficiais, veio à tona um plano questionável – curiosamente, ele era um dos idealizadores. 

Na chamada “Operação beco sem saída”, a ideia era explodir bombas em vários quartéis e unidades da Vila Militar, da Academia Militar das Agulhas Negras, com o objetivo de assustar e ameaçar o ministro do Exército, general Leônidas Pires Gonçalves. 

A ação pretendia tomar os devidos cuidados para que não houvesse feridos, mas forçar um reajuste dos salários em pelo menos 60%.  O plano foi atribuído a Bolsonaro e ao capitão Fábio Passos da Silva, que negaram veementemente qualquer vínculo com o esquema. 

Julgados em junho de 1988 pelo Superior Tribunal Militar, os dois capitães não foram afastados, mas a inocência foi desmentida mais tarde pela Polícia Federal, que confirmou a caligrafia de Bolsonaro nos documentos que serviriam de prova.

Se, por um lado, trouxeram-lhe problemas, as polêmicas contribuíram para sua eleição na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, no final de 1988, pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Com apenas dez meses de mandato, renunciou e foi eleito deputado federal. 

Tomou posse na Câmara dos Deputados em fevereiro de 1991, membro da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. 

Entre 441 deputados, votou a favor do impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Mello, em 1992. No ano seguinte, fundou o Partido Progressista Reformador (PPR), mas como não se distancia das discussões por muito tempo, defendeu o retorno do regime de exceção e o fechamento do Congresso Nacional.

A declaração lhe rendeu acusações por crime contra a segurança nacional, ofensa à Constituição e ao regimento interno da Câmara, só sendo barrada pelo general da reserva Luís Henrique Domingues. 

Acusou, ainda em 1993, o governador de São Paulo, Luís Antônio Fleury Filho, de usar empreiteira para intermediar compra e venda de deputados do Partido Social Democrático. 

Se as intrigas parecem conduzir a vida de Bolsonaro, elas não pararam por aí. Em 1994, a rixa foi com o governador do DF, Joaquim Roriz (PP), quando o acusou de buscar privilégios de formas ilícitas.

Os passos de Jair Bolsonaro também são controversos. No mesmo ano do desentendimento com Roriz, votou pedindo o fechamento do Congresso e declarou preferir o regime militar à democracia – algum tempo depois, no pleito de 3 de outubro, concorreu à reeleição. 

Propunha melhorar o salário dos militares, o controle de natalidade, o fim da estabilidade dos servidores e a diminuição das áreas indígenas.

Dois anos antes da virada do milênio, em 1998, envolveu-se em mais um escândalo. Durante a eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, chamou a atenção de alguns setores da sociedade por seu envolvimento com a violação dos direitos humanos. 

Comparado a Messias por alguns e a Hitler por outros, defendeu a pena de morte, a prisão perpétua, a maioridade penal para pessoas de 16 anos, o regime de trabalho forçado para condenados e um rígido controle de natalidade para combater a miséria em artigo publicado na época.  

Entre as intrigas mais famosas, estão as provocações de 2014 à deputada Maria do Rosário – quando Bolsonaro afirmou que ela não merecia ser estuprada – sendo julgado em 2015 pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e condenado a pagar R$ 10 mil em indenização por danos morais. 

No ano de 2016, quando a Câmara votava para o impeachment de Dilma Rousseff, recebeu cusparada do adversário ideológico Jean Wyllys depois de prestar homenagem ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Durante sua carreira política, Jair Bolsonaro passou pelo PDC (Partido Democrata Cristão), PPR (Partido Progressista Reformador), PPB (Partido Progressista Brasileiro), PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), PFL (Partido da Frente Liberal), PP (Partido Progressista), PSC (Partido Social Cristão) e, por fim, no partido que promove sua primeira eleição à presidência da República: o PSL (Partido Social Liberal).

eleições 2018

As eleições de 2018 marcam a primeira candidatura de Jair Bolsonaro à presidência. Com o vice general Mourão, enfrenta Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, no segundo turno com uma clara vantagem.

O forte apoio nas redes sociais é reflexo dos quase 50 milhões de votos que recebeu no primeiro turno. Na campanha marcada por altos índices de rejeição, é comum o surgimento de movimentos opositores, como o #EleNão – majoritariamente composto pelo eleitorado feminino. 

Nada distante da provável dificuldade que alguém naturalmente polêmico acarreta, Bolsonaro confessou publicamente evitar debates por motivos estratégicos. Entretanto, não compareceu a alguns deles por questões de saúde. 

No dia 6 de setembro, em Juiz de Fora, Minas Gerais, ao ser erguido e ovacionado por apoiadores em campanha eleitoral, recebeu uma facada que perfurou a região abdominal. O caso não foi suficiente para cessar a polarização em torno do candidato: entre comoção e espanto, há quem tenha desejado até mesmo o fim trágico do militar da reserva.

Jair Bolsonaro não é o que estudou, não é o que desenvolveu nas escolas militares, nem mesmo o que já disse ou fez, mas sim o que representa. Simboliza exatamente o que esperam dele: o salvador do Brasil, o risco à democracia, o apoiador da família “tradicional” e dos bons costumes, o contrário aos direitos humanos e ao “politicamente correto”, o anti-PT, o homofóbico, o cristão ou o fascista. Bolsonaro é, portanto, o que fazem dele.

Fernando Haddad PT


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