Muito se fala sobre a importância de que determinados profissionais sejam imparciais quando estes tratam de passar uma informação verdadeira, como por exemplo, o jornalista, o filósofo, o cientista e o professor. Mas afinal, é possível ser imparcial?

O oposto do imparcial é o parcial, partidário, sectário; então, por contrariedade, o imparcial é aquele que aborda todos os aspectos de algo. No caso desses profissionais seria um acontecimento, uma situação ou mesmo um objeto.

dois cubos mágicos. O primeiro está manipulado, já o segundo, está intacto
croisy / Pixabay

Peguemos um exemplo concreto. Ao olhar a foto do cubo mágico – veja acima – você vê três lados dele e não consegue ver os outros três. Alguém poderia dizer “Ora, basta tirar uma foto dos outros três lados e iremos ter visto o cubo inteiro”.

Sim, poderíamos fazer isso e ver todos os lados do cubo, mas ainda assim as duas fotos teriam ângulos específicos do objeto e não seria possível ver o poliedro de todos os ângulos existentes, porque existem infinitos ângulos, distâncias e formas de se observar o cubo.

Da mesma forma, alguém que busque ser verdadeiro no seu relato sobre algum acontecimento, pode sim abordar de forma geral, mas sempre será de ângulos específicos, o que é um direcionamento, uma incapacidade de ser imparcial natural da nossa limitação como pessoas e não “deuses onipresentes e oniscientes”.

Um outro ponto que retira nossa capacidade de ser parcial é a subjetividade. Todos nós somos dotados de um contexto histórico-social específico, além de uma percepção e interioridade também específica a qual interfere diretamente na nossa interpretação do mundo por mais que tentamos ser imparciais.

Abandonar a subjetividade como abandonar a si mesmo, o que é um absurdo.

Agora, voltando às perguntas iniciais. A imparcialidade é um ideal, porém, ela nunca se concretiza totalmente por conta das limitações citadas acima. Mas como todo ideal, é possível estar mais próximo ou distante dele.

Eu não acredito que a imparcialidade seja sempre sinal de aproximação da verdade e certamente não é sempre uma boa opção. A imparcialidade total é desumana e todas as questões que envolvem a nós são humanas.

Além disso, há momentos que requisitam sermos parciais. Por exemplo, um juiz que busca ser totalmente imparcial no seu julgamento, pode lhe faltar empatia com a vítima, tornando a pena do réu muito mais branda do que a situação demanda.

E no final desse texto, fico com uma dúvida: o quão imparcial eu fui ao escrever isso?


Marcelo Silva é estudante de Filosofia em São Paulo

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