Luzes apagadas, portas fechadas. Térreo, Por favor — peço a um casal que confessavam segredos um ao outro próximo do painel com os botões a serem apertados para fazer o elevador funcionar. Saio junto com o rapaz de dread do terceiro andar e a mulher que sempre faz o sinal da Cruz ao entrar e sair de um lugar. Não sei se ela tem muita fé ou tem tanto medo do bicho homem que necessita de acreditar em algo que o proteja.

Na saída, passo em frente a uma banca cujo nome do proprietário não me recordo agora. Somente passo mesmo. Uma rápida analisada nos jornais foi o suficiente para concluir que as notícias continuavam as mesmas. Ao invés de rostos que já apareceram milhares de vezes em jornais, por que não publicam um texto meu sobre o cotidiano?, reflito.

É que o cotidiano só é motivo de pauta quando cai na panela contemporânea política, escândalo, corrupção como ingrediente, respondi, e jogam um pouquinho de ódio para não grudar no fundo.

Passei em frente a um café e resolvi fazer uma parada para quebrar a rotina. Peço o Combo 6, que vem um delicioso expresso, um panini e dois mini donuts. Na TV, próximo ao caixa, escuto a voz de Humberto Gessinger no acústico do Engenheiros do Hawaii.

Em seguida, seu rosto ganha destaque ao cantar “Terra da gigantes”. Quanto tempo, Humberto. Que privilégio o meu, ser presenteado com um show de vossa pessoa.

O vocalista está ocupado demais para me responder. A cada música finalizada iniciava outra. Isso que chamo de profissionalismo e amor à carreira. Olho para o relógio que está grudado na parede e percebo que toda aquela apreciação me atrasou por completo. Paguei rapidamente no caixa e prometi a Humberto uma conversa com mais calma em uma cidade que não tem nada de calma.

O cantor prosseguia com o show, mesmo não recebendo nenhuma caixinha minha. Antes de sair do café, posso afirmar com toda a certeza que Humberto acenou para mim. Para minha sorte, não virei novamente. Do contrário, teria visto que o cantor somente tirava o cabelo que cobria sua face.

Mas tenho certeza que acenará de verdade quando eu convidá-lo para um café e conversarmos sobre juventude, bandas, guitarras e outras coisas que merecem ser discutidas com cafeína no corpo. No metrô, o caos de sempre reinava por mais um dia.

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