Com toda a certeza do mundo esta foi a pergunta que rondou minha quarta e ronda minha atual quinta. E agora, onde morar?

Causa-me espanto esta pergunta, porque até então eu nunca tinha formulado esta questão no meu caderno de textos. Espanto por ser uma pergunta tão complexa, formulada com apenas duas palavras e um ponto de interrogação qualquer. Espanto por nunca ter pensando nisso antes. Espanto por ter sido severamente traído pelo meu café — que pertence ao Machado e a digníssima Clarice — ao trazer esta questão. Senti a cafeína agir bruscamente na parte do meu cérebro que estava anestesiada, justamente para não pensar em coisas assim.

Claro que não realizarei tal ato de sair do país, mas e se essa hipótese acontecesse? E se as pessoas abandonarem o hábito da leitura e escrita e começarem a perseguir nós, mortais escritores, para sermos queimados na praça da Sé e virar postagem de rede social que só valoriza a imagem? E se tudo que escrevêssemos fosse considerado um lixo para a atual sociedade brasileira? Seríamos hereges? E se achassem uma forma de ressuscitar grandes nomes de nossa literatura: como competir com Machado de Assis, Fernando Pessoa, José de Alencar? (Eu só peço por favor para que não apelem para Carlos Drummond de Andrade, suplico!!). Estaria literariamente falido. Quem trocaria estes nomes anteriores pela minha prosa? Eu trocaria a mim. Por este e muitos outros motivos e hipóteses, escolhi encontrar um novo lugar.

Decido analisar um Atlas. Tarefa fácil, nostálgica, divertida. Deixo o fácil para o Ensino Fundamental. Torna-se diferente em casos emergenciais, um tanto quanto desesperador. A cada página uma nova incerteza.

Europa, Ásia, Portugal, Acre (analisando bem, essa opção seria uma boa), Japão, Minas Gerais,Paraguai, Embu das Artes — Não foi um bom começo

Mas não podia desanimar. Tenho esperança de que algum país, cidade, bairro ou encruzilhada aceite um jovem que brinca com uma coisa tão séria que é escrever. Conheci nomes diferentes, alguns para bom e outros para ruim. Eu poderia aproveitar esta crônica e citar cada um, mas eu a deixaria mais confusa do que está. Prometo dedicar um escrito somente aos nomes que até agora tento decorar (menos os da Rússia, porque é muita sacanagem com quem está escrevendo isso aqui), tudo isso acompanhado, é claro, de um excelente café com gosto de sexta — que, por sinal, já é amanhã!

Talvez demore até eu encontrar onde morar. Pode ser que leve uma semana, um mês, vinte anos, mais de uma vida. Se as minhas fantasiosas hipóteses não acontecerem,  fico mais tranquilo. Talvez seja melhor parar de escrever por hoje. Deixo o Atlas para as quartas, que fica no meio do muro. Acompanho-a nesse muro, rezando para não cair por falta de equilíbrio ou por ter peso em excesso nele. Infelizmente, sei que amanhã, grande sexta, ainda estarei com isso na cabeça:

Onde morar?

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