Não que esta seja a primeira, mas sim a primeira que assumo autoria e escrevo sobre ela. Muitas vezes há a necessidade de fuga, uma fuga inevitável. Nem sempre podemos enfrentar tudo peito a peito. E quando esse nem sempre chega, é hora de fuga. Não considero covardia, nem punição pessoal, o objetivo não é este. Quero reflexão pessoal, parar para pensar situações e pessoas que nenhuma linha de pensamento durante a semana transtornada pode proporcionar.

Fujo para debaixo da terra e vejo que não sou o único. Estações lotadas e tanta muvuca de pensamentos que penso estar dentro da minha cabeça. Quero Liberdade e vou até ela. Encontro duas pessoas queridas e antigas e uma terceira não muito agradável, mas essa última passou longe da minha zona de alcance. Conversei sobre futuro e presente transformado em futuro presente. Gargalhei mais do que lamentei, senti um início de delírio metropolitano, interrompido pela escassez de tempo de vida que temos a cumprir.

Retornei para debaixo da terra para poder chegar em casa. Quantas histórias de pessoas desconhecidas eu poderia ouvir até a estação final? Confesso ser melhor em ouvir do que falar. Registraria cada detalhe em perfeita sincronia com a realidade, sairia comédia, romance, terror, drama, incontáveis gêneros. Garantiria obras para serem lidas até a minha quarta geração. Os dedos cometeriam suicídio de tanto trabalho escravo e no final só restariam os do pé. Mas valeria a pena, garanti.

Uma fuga alheia surpreende minha primeira fuga registrada. Uma fuga que levaria mais do que 60 minutos, como as minhas. Exatos 5 anos de fuga foi o que me contaram. Esta não tinha metrô, praça, escadaria. Fora esquematizada para um outro estado, que não é sólido, líquido ou gasoso, mas concreto e preenchido por habitantes cujo sotaque soa diferente do paulista. Bastante tempo, pensei antes de subir no ônibus que estava parado no terminal próximo ao metrô.

Mas quem sou eu para discutir um tempo que não me pertence, retruquei. Fugas são necessárias e não possuem restrições temporais e espaciais. É direito adquirido de todo ser existente neste plano e já deveríamos estar acostumados.

Bastante tempo, repeti em forma de um sussurro para um rapaz todo de social que estava sentado à minha direita e que nada entendeu o que eu falava por conta dos fones de ouvido e as mensagens de texto do celular. Talvez eu tenha repetido mais três vezes antes de descer no ponto e caminhar até em casa. Enquanto procurava a chave para abrir a porta cinza como São Paulo, lembrei-me que pensamentos sobre fugas só poderiam surgir em momentos de fuga. Fora desse contexto, a vida continuava e acelerava. Comecei a conversar sobre blocos de carnaval do ano que vem e projetos para o final de semana.

Conclusões sobre fugas demoradíssimas ficarão para minha próxima, anotei o lembrete em um papel qualquer que encontrei perdido na minha bolsa que cabe quase um mundo inteiro e que demorarei mais de 5 anos para encontrá-lo novamente nela. Finalizo aqui.

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